NOM!!! O acontecido em 1 de junho no CSOA O Aturuxo das Marías nom foi uma PERFORMANCE.

Este texto está extraido do blog «ogajeironagavea».

Nom som crítico de arte mas, por circunstâncias vitais experimentadas na altura dos anos do câmbeo de século, tivem relacionamento moi de perto com as artes performanticas e conhecim da mão -de quem era por entom minha compa da vida e artista multidisciplinar-, o trabalho de destacadas mulheres do século XX, que pensavam arte e política nesta expressom artística e transformaram a concepçom da Arte contemporânea.

Graças a ela tivem conhecemento desta arte e a fortuna de ser partícipe (de moi segunda fila e tratando de passar desapercebido, como radialista da Kalimera e ativista em Indymédia Galiza, na procura de recolher aúdios das reaçons das espetadoras ocasionais) de atos levados a cabo nas ruas por mulheres ativistas, coma os dois passeios cum andar moi vagarinho enfiadas e em total silêncio dum grupo de mulheres vestidas íntegras de negro e seus rostros enmascarados polas ruas mais comerciais de Compostela, fora das zonas de conforto e em horas de plena atividade, como denúncia diante da catástrofe do “Prestige” em 2002. Açons que tiveram seu ponto álgido quando na segunda delas interviram uns espontâneos que baixaram duma furgona da polícia nacional com atitude intimidatória e exigindo ás mudas e impávidas performes que se destaparam e identificaram conseguindo acumular um gentio ao redor que defendia ás mulheres e que punha em questonamento a desproporcionada atuaçom policial; a sua intervençom, por suposto e case está de mais assinala-lo, nom formava parte da performance. Como nota curiosa isto sucedera no “passo de peonagem” onde tempo depois o coletivo “Mulheres Transgredindo” -co que colabourava minha compa- realizaria sua açom denúncia diante dum comércio de Inditex, quando uma récua de mulheres com panos violetas pugeram-se a zurzir durante horário comercial diante do escaparate da tenda denunciando a exploraçom laboral de meninhas por empresas de tudo o mundo que trabalham para o “benefator” Amancio Ortega; açom que dera a volta ao mundo e da que ainda segue havendo réplicas, tudo isto muito antes de que os palavros “trending topic” e as mal chamadas “redes socias” mermaram e confundiram a informaçom alternativa da internet. Tamém esse mesmo coletivo feminista, figera umas outras quantas açons que encaixam com o que eu entendo por performance, como quando encintaram todo o redor da Catedral com lendas contra da intromissom da igreja em assuntos de mulheres ou quando em diferentes partes da cidade velha e subidas a cadeiras, duzias de mulheres engalanadas com batas “guateadas” e delantais e os inesquecíveis panos violetas sobre suas testas, portaram durante horas cartazes reivindicativos contra do machismo e o patriarcado; ou quando um feixe de mulheres pousaram na praza do Toural tiradas no cham tapadas por completo de sabas brancas diante de passeantes que nom podiam ficar alheias ao tema da denúncia.

Nesses tempos tivem o imenso pracer de conhecer a performer sérvia-croata Marina Abramovic, quando em junho de 2002, minha compa (quem já levava bem de tempo interesada nesta arte e começara a léva-la á prática mesmo em espaços como a “Feira das Mentiras” que, organizada da mão de Manu Chao, tivera lugar em Compos em junho de 1998, ou na antiga Sala Nasa e outros espaços e lugares de Compostela) fora uma das 12 pessoas escolhidas polo CGAC para realizar o obradoiro “Cleaning de House” dirigido e supervisado pola própria Marina e onde 28 pessoas (as 12 galegas do CGAC e mais 16 alunos e alunas que vinheram coa própria Marina) permaneceram uma semana numa vivenda em Antas de Ulha, ilhadas do mundo e submetidas a duras restriçons. A própria Marina da conta delo, pensando no treinamento de uma nova geraçom de performers que precisam mergulhar em um processo de preparaçom do corpo e da mente para realizar sua obra: “Nós vamos para a natureza, dormimos juntas, sem comida por cinco dias, sem frutas, sem sumos, apenas água. Sem falar, nom falar é sempre mais difícil do que nom comer. Temos necessidade de verbalizar tudo e a energia se espalha. Entom fazemos exercícios mentais e físicos pesados para testar nossa concentraçom, porque nossa concentraçom é um desastre. Depois de cinco dias podem tomar sua primeira comida e avaliar se estám preparadas para realizar uma performance”. A base deste trabalho passava pela investigaçom das próprias fronteiras físicas, mentais e espirituais do ser humano e sobre do control que uma pode exercer sobre seu próprio corpo.

Marina Abramovic é uma performer que trabalha nos limites físicos e mentais. Dentre suas performances mais sonadas figura a sua viagem durante 3 meses em 1988 percorrendo a Muralha da China caminhando cara atopar-se com Ulay, tamém artista de performance e seu “partenaire” durante uma década no coletivo dual “The Other” -no que vestiam e se comportavam como gemelgos numa relaçom de completa confiança- quem partira desde o outro extremo. Performance que tivera por final a separaçom de ambos artistas. Abramović concebera esta caminhata num seu sonho, e proporcionara-lhe o que para ela era um final apropriado e romántico a uma relaçom cheia de misticismo, energia e atraçom. No vrão de 2017, depois de anos de distanciamento e tensons, voltaram coincidir ambas sobre o cenário dum museu de Dinamarca para apresentar uma retrospetiva sobre Abramović. Marina declarou depois que “toda a raiva e o ódio ficaram atrás e penso sobre esta vida que nos deixou o belo trabalho que realizamos, e isso é o que importa”.

Mas fora em 1974 que Marina realizara sua performance mais marcante, ao testar o límite da relaçom entre público e artista. Mediante Rhythm 0, a artista confirmou a tendência natural do ser humano á violência e como ésta se incrementa quando a vítima é mais vulnerável e nom tem como defender-se.

Numa mesa, Marina dispunha para sua audiência 72 objetos sobre uma longa mesa que incluia instrumentos como flores, sal, uma bufanda, perfume, velas, mel, objetos cortantes e mesmo um revólver e balas. Assistentes foram convidadas a elegir um objeto e usa-lo com a artista da maneira que quiger. Marina Abramovich assegurou que nom se moveria durante seis horas, passara o que passara e manifestou que assumiria total responsabilidade de quanto lá se passara. É dizer adoptou um rol pasivo para permitir que a audiência manipulara seu corpo. Se bem num início foram pacíficas e até tímidas, com o passo dos minutos, os atos começaram a ser mais violentos. «O que aprendim foi que, se deixas que o público decida, podem-te matar. Sentim-me verdadeiramente atacada: cortarom-me a roupa, cravaram-me as espinhas das rosas no estómago, uma pessoa apuntou-me á cabeça com a pistola e uma outra quitou-lha. Depois de exatamente seis horas, segundo o plano previsto, erguim-me e comecei caminhar cara o público. Todas fugirom, evitando um enfrontamento real», explicara depois Abramovich.

Da mão da minha compa tamém conhecim de perto o trabalho da cubana Ana Mendieta, que me deixou uma pegada imborrável quando esta performance já levava vários anos morta em circunstâncias nunca esclarecidas em 8 de setembro de 1985, após cair do 34º andar da sua vivenda em New York, a mãos de seu marido, o escultor minimalista, Carl Andre, ou bem por suicídio ou acidente como determinou o juiz.

Antes de sua morte, vizinhos escutaram uma peleja violenta entre o matrimónio e se bem nom houvera nenhuma testemunha ocular dos eventos que levaram à morte de Mendieta; numa gravaçom duma chamada de Carl para o 911, ele diz: “Minha esposa é uma artista e eu sou um artista e nós tivemos uma disputa sobre o feito de que eu era mais, eh, exposto ao público do que ela. Ela foi para o quarto e eu fui tras dela e ela se tirou pola janela.” Em 1988, Carl Andre foi acusado e absolvido de assassinato. Durante o processo, que durou três anos, o advogado de Andre descreveu a morte de Mendieta como um possível acidente ou suicídio. O juiz considerou Andre inocente por dúvida razoável.

A sentência foi questonada pola família e amizades que sabiam do pánico ás alturas de Mendieta, e se questionavam que Andre nom fora interrogado polo fiscal, que nom se admitiram testemunhas incriminatórias chave e do porquê fora um juiz e nom um jurado quem o julgara. Assimesmo a absolviçom causou furor entre as feministas do mundo da Arte que denunciaram a discriminaçom diante a justiça por questom do seu origem e por ser refugiada fronte a um artista “do que seu passado violento é eclipsado sistemáticamente polo seu estatus e privilégio”. A escritora feminista B. Ruby Rich denunciara na imprensa que “havia muitas coisas que nom se figerom bem no juízio” e recriminava que “nom menos importante a forma cínica na que seus advogados tratarám de usar sua arte para respaldar a sugerência de que se suicidou».

Desde entom organizaram-se várias açons de protesto denunciando tamém o intento de borrar a Mendieta da história de Carl Andre. Em 14 de maio de 2014, o grupo feminista No wave Performance Task Force pugera em cena um protesto fronte ao Dia Art Foundation, onde tinha lugar uma retrospetiva de Carl Andre. Depositaram um feixe de sangue animal e intestinos e as ativistas portavam “chándales” transparentes com este texto escrito sobre suas peles: “Desejo que Ana Mendieta seguira viva”.

Em junho de 2016 durante a inauguraçom do novo edifício de Tate Modern o grupo ativista contra a violência cara as mulheres,WHEREISANAMENDIETA e Sisters Uncut protestaram -diante quem visitavam a Switch House que prometia uma “maior variedade de obras de arte” e amossar os trabalhos de mais artistas de todo o mundo- denunciando que o trabalho de Carl Andre se exibia entanto que os de Ana Mendieta estavam na bodega do museu, além de evidenciar a falha de artistas mulheres e em especial de mulheres de cor. E em 2017 WHEREISANAMENDIETA participara na Berlín Art Link lembrando a memôria de Ana Mendieta e denunciando os mecanismos de exploraçom e hipocrisia no mundo da arte. Estas denúncias som umas poucas das muitas que se figeram; e a luita por lembrar Ana Mendieta permanece até os dias de hoje.

Ana Mendieta (18 de novembro de 1948 – 8 de setembro de 1985) foi uma performer, escultora, pintora e vídeo artista cubana, que é mais conhecida por suas obras de arte “earth-body”. A obra de Mendieta era, geralmente, autobiográfica e focada em temas que incluem feminismo, violência, vida, morte, lugar e pertencimento. Seus trabalhos, geralmente, estám associados aos quatro elementos básicos da natureza. Mendieta frequentemente remetia a uma conexom física e espiritual com a Terra. Mendieta unia seu corpo com a terra para se tornar inteira. “Através das minhas esculturas de terra/corpo, eu me torno uma com a terra… Eu me torno uma extensom da natureza e a natureza se torna uma extensom do meu corpo. Este ato obsessivo de reafirmar meus laços com a terra é realmente uma reativaçom das minhas crenças primitivas… [em] uma força feminina onipresente, a imagem posterior se engloba dentro do útero, é uma manifestaçom da minha sede de viver.”

De toda sua fascinante obra, a que mim mais me impresionara foi a intitulada Rape Scene, apresentada no ano 1973. A performance estava baseada no caso real duma estudiante da Universidade de Iowa que fora violada nesse mesmo ano. Esta intervençom foi apresentada a um grupo de amigos moi achegados da artista, quem essa mesma noite foram convidados a cear no seu departamento desse campus. Ao chegar, a porta do departamento espera semi aberta deixando entrever, no seu interior, o corpo de Mendieta desparramado sobre uma mesa, atado de pés e mãos, nua da cintuira para abaixo e com as suas pernas manchadas com sangue e outros fluidos.

Nom tenho dados da reaçom das pessoas convidadas, nem me importa. Nom vou acá a fazer uma exposiçom da dor que me produz, mas sim vos convido a lêr a analise que, desta singular obra, fai a artista vissual chilena María Luisa Portuondo num seu artigo ANA MENDIETA- RAPE SCENE: LA DETENCION DEL INSTANTE publicado na revista colombiana «Escaner» em fevereiro de 2009, e que o leades inteiro sim me importa. De todas colo acá parte do seu texto, traduzido:

A performer apresenta-nos a fragilidade e crueza que se desprende dum ser logo de ter sido invadido até a degradaçom. Já nom podemos dar pé atrás com o visto! Nom existe a opçom de apartar-se diante o dessagrado, mas bem, se nos conduz a fixar a mirada no que tentamos evitar. Desde esta condiçom a artista provoca-nos, sugire uma imagem aborrecível na sua qualidade de desalmada e ao mesmo tempo dum magnetismo explicável justamente nesta condiçom. Que é o que sucede em mim, como espetador, quando olho aquilo que é vil, ruim, despreciável? Prendo-me do inussual daquela construiçom, da oportunidade de presenciar algo que jamas verei, que se apresenta diante minha como a revelaçom do oculto. Som um sujeito nojento que desfruta vendo a dor e a fealdade alheia. Todos fazemos coisas despreciáveis quando ninguém nos ve, todos”.

Poderia falar tamém de María Galindo, a quem tivem a fortuna de conhecer na altura das mobilizaçons do Prestige, numa vissita que figera á desaparecida okupa Casa Encantada de Compostela e o trabalho do coletivo boliviano “Mujeres Creando” do que ela forma parte junto doutras prostitutas e mulheres do malviver. Mas já tenho falado delas num outro artigo deste meu blogue e em anteriores da minha etapa na revista anarquista galega “Abordaxe”.

Se bem de todas as performances as que assistim como espetador, convidado ou nom, foi a que apresentara minha compa em março de 2001 –e que ela mesma considera a sua mais autêntica performer de todas quantas realizara- com o título “A Tumba Aberta”.

Aparecera em cena entanto soava de fundo a cançom “A la Hora de la Muerte” do genial Enrique Morente e passo seguido soa uma sua leitura gravada intres antes da performance. Uma Carta-Testemunha escrita por Ayla Özcam, presa política em greve de fome no cárcere turca de Bayrampassa, dando conta dos sucesos que tiveram lugar entre o 19 e 22 de dezembro do ano 2000 quando polícia e exército turcos assaltaram todas as prisons do estado quando, perto de 3 mil pessoas encirradas por motivos políticos e de diferentes organizaçons revolucionárias, pugeram-se em greve de fame até a morte para evitar ser transladadas e encirradas nas novas prisons de alta seguridade do estado turco, num passo mais na repressom e o control estatal das dissidentes.

Seus movementos no espaço entanto soavam as palavras de Ayla nessa aterradora Carta, seus acenos, suas poses, suas danças e a expressom do seu rostro, foram quem de transmitir-me tal estado emocional que poucas vezes sentim meu corpo tam eletrizado diante tanta generosidade da sua denúncia. Eu, que por entom já levava lidas, traduzidas e radiadas muitas cartas de pessoas presas de tudo o mundo, tantas que já caseque suas leituras eram um exercício de rutina e, porque nom reconhece-lo, de certa fartadela; fiquei abraiado pola claridade com que estava recebendo a mensagem, em como minha compa estava nesse mesmo momento numa cárcere turca relatando ao mundo tanta dor e á vez tantíssima paixom e orgulho pola sua luita contra o Terrorismo de Estado.

A Carta chegara a suas mãos no estudo da Kalimera tras olhar um exemplar do “Molotov”– jornal mensal madrilenho de contrainformaçom- que se recebia em papel e pontoal a través do servizo postal; tal como me lembrou ontem mesmo numa conversa que tivemos tras acodir diante minha demanda da sua opiniom sobre o que eu já relatara neste escrito (e que, obviamente, ainda nom rematara de escrever). A foto adjunta é parte desa Carta transcrita do seu punho e letra e que ela me remitiu gostosa.

Hoje em dia ela segue a ser uma das minhas milhores amigas e por sorte tamém vizinha de bairro e além deitou estas palavras que agora transcrevo do aúdio que gravei da nossa conversa (ainda que nom fosse necessário aclara-lo, por suposto gravado com seu total consentimento e aceitaçom) com respeito ao Rape Scene de Ana Mendieta e sobre sua A Tumba Aberta, palavras que lhe agradezo, e com as que remato esta ponência. Se bem dantes quero assinalar que em nenhuma destas perfomances e em nenhuma que eu conheça, nunca, NUNCA, as perfomes exerceram violência alguma contra as assistentes convidadas nem contra espetadoras ocasionais:

“Isto que fai Ana Mendieta aqui, quando se expom dessa maneira, o que quere é deitar uma pegada imborrável no teu ser, no que tu es, “uma pegada imborrável” e que tu, cada vez que peches teus olhos, te venha essa imagem ai. Isso é uma Performer. Vem-te essa imagem e isso remove-te, nom te deixa indiferente. Isso é uma Performer!!. Algo que, vido dum outro sítio e que a ti te provocou violência, aversom e barbaridade, provoca na artista ou na pessoa que quis fazer disto algo que trasmitir, dum outro jeito que os media nom fam e que ninguém mais fai; isso só se pode fazer numa performance e Ana Mendieta nisso era uma “crack”. Isso é maravilhoso, eu adoro essa mulher só porque figera isso. Isso era uma performance!! O demais som …

Tes que filtra-lo e transforma-lo e converte-lo em algo que eu te dou como se fosse um tessouro… Vale!; e o outro é …

Neste caso Ana Mendieta recebe um impato dessa agressom, dessa brutalidade, ela recebe impato e lhe deixa pegada e o convirte em algo que dar, e o converte em algo que a ti te impate duma maneira diferente. Porque, este tipo de notícias , quantas vezes as escuitamos? Violada nom sei quem, a Manada nom sei quantos, Assassinato de no sei que,… se nom o transformo em algo… que merda estou fazendo? Contando mais do mesmo? Para isso ponho as notícias.

E por isso a arte pervive… O outro nom vai perviver de nenhuma maneira… Alguns pilharam uma depressom e outras comentarám nas tabernas: “Foder, como se passaram estas…”.

Que pegada, nem que hostias!!”.

Edu.